Nome do vencedor do 7ºano: Ana Catarina de Barros Mendes, 7º A
Excerto escolhido: Contos de Vergílio Ferreira
Estava farto de passar as férias em casa. Ele queria mais
para além das quatro paredes azuis do seu quarto, queria aventura, algum medo,
sentir-se um herói.
Então saiu, andou
muito e foi até a praia. Sentou-se na branca e fina areia, e reparou nos seus
pés. Não levara chinelos, tinha os pés sujos, feridos e doridos. Então, entrou
na água para se lavar.
E qual não foi o seu
espanto, quando uma estranha coisa dura lhe tocou nos pés. Deu um salto e
gritou. Por uns instantes ouviu cães a ladrar e as galinhas dos vizinhos a
cacarejar de susto.
Quando voltou a si,
avistou uma pequena garrafa de um tom transparente esverdeado com uma rolha no
topo. Pegou-lhe e abriu-a. Espreitou para o interior e viu um papelinho tão
pequenino que, quase podia jurar, não poderia conter uma única palavra. Esticou
um dos dedos, pressionou o papelinho contra o vidro interior da garrafa e
arrastou-o para cima.
Quando o observou,
verificou que estava dobrado; então, um pouco a medo, desdobrou-o e leu a
seguinte mensagem:
“Se o tesouro queres encontrar, para
casa terás de voltar. Deita-te na tua cama até o dia se iluminar.”
O rapaz ficou
desconfiado, já vivia naquela casa há tanto tempo que não acreditava que podia
encontrar um tesouro naquela mansão moderna. Mas a curiosidade venceu e ele
voltou. Um pouco a custo, deitou-se na cama. Mas não se conformava com a ideia
de passar ali cinco horas até o dia nascer. Mas lá ficou. Acabou por adormecer.
Sonhou e sonhou, e viveu a sua aventura tal como a tinha imaginado.
Quando acordou,
sentia-se feliz, mas ao mesmo tempo desiludido. Observou o quarto, procurou em
todo o lado, mas nada, não havia nenhum tesouro. Passado algum tempo,
apercebeu-se de que para ele o maior tesouro era viver a sua aventura, e fora
isso que acontecera, ele vivera a sua aventura tal como a tinha imaginado,
porque ela só acontecia nos seus sonhos.
A partir desse dia,
caía sempre num sono profundo, mal a mãe levava a luz, em busca de uma nova aventura.
Nome do
vencedor do 8ºano: Mafalda Alves, n.º13 – 8.ºA
Excerto
escolhido: Contos de Vergílio Ferreira
(…)
Cambaleando sonolento, apressou o
passo em direção ao outro lado da aldeia, mas o vento zangado travou-o. Apenas
com uma camisa, José não esperava enfrentar a fúria do vento. Continuou
determinado. E, quando na noite a tímida ondulação lhe veio lamber os pés, ele
vislumbrou a lua, tão bela e nua, refletindo-se no rio.
O rio.
Era tudo o que ele queria, poder
nadar lá, observar os peixes saltando de um areal para outro, poder lavar a sua
alma naquelas águas puras. José sonhava de noite e de dia com o rio. Queria
viver lá, sentir a brisa fresca que o rio trazia consigo, mergulhar e sentir
cada gota embater-lhe nas faces. Mas não podia ser, os pais nunca lho
autorizariam.
Ninguém na aldeia ousava
aproximar-se do rio, contorcendo-se com medo de um monstro há seculos
inventado. Mas José não. José amava cada criatura do rio e desejava poder brincar
no rio com os seus amigos, refrescar-se nos dias mais quentes… Se ao menos ele
pudesse provar que o rio é belo e inofensivo!...
Nessa mesma noite, enquanto
aproveitava os seus últimos segundos de liberdade, ouviu um som, um som semelhante
a uma melodia triste. Curioso, aventurou-se pelo rio mais uns metros e, sedento
daquele som, com umas fortes braçadas chegou à outra margem. Contudo,
continuava sem ver nada.
De repente, no frio da noite, José
avistou uma cauda verde e brilhante a saltar perto da margem. Assustado, recuou
dois passos. Então, a estranha criatura voltou a saltar, emitindo essa melodia
triste, que se assemelhava a um grito de dor.
José não se pode conter mais; a
sua curiosidade levou-o ao limite e … num mergulho, embrenhou-se nas águas do
rio. Abriu os olhos. Mas, o que seria aquilo? Uma figura feminina, com longos
cabelos dourados e faces rosadas, mas … com uma cauda gigante e mutante, verde e brilhante, como a que vira
anteriormente.
- Quem és tu? Quer dizer, o que és
tu?
- Sou uma sereia, o meu nome é Sérkil.
Ajuda-me.
Com esta última súplica, caiu
desmaiada nas profundezas do rio, seguida por José que a salvou a tempo. Sérkil
tinha sido trespassada, numa das suas barbatanas, por um anzol! Ainda bem que
José estava lá! Ele nem hesitou em ajudar esta criatura do rio!
- Pronto, já está! Nunca te
esquecerei.
- Não, não vás meu salvador!
Levar-te-ei comigo para o meu reino nas profundezas.
E com a emissão destas últimas
sílabas Sérkil, agarrando José pela mão, encaminhou-o para o mundo com que ele
sempre sonhou.
Nome da aluna: Jéssica Silva, nº 11 – 9º D
Excerto escolhido: O
Mistério da estrada de Sintra, de Eça de Queiroz.
(…)
Do que eu estava perfeitamente
convencido é de que havia uma mulher cúmplice. Aquele homem não se tinha
suicidado. Não estava, decerto, só, no momento em que bebera o ópio. Terá sido
Raquel, a sua mulher? Ou Joana, a sua amante? Ou talvez Margarida, a sua filha?
Não sei … não percebo como é que um homem tão novo possa pensar em por fim à
vida, assim, tão drasticamente…
Liguei para o meu chefe para lhe
pedir o número de telefone da Raquel, pois estava convicto de que se alguém
soubesse de alguma coisa, seria provavelmente a sua mulher. Combinámos um
encontro num café, às dezoito horas. Pouco faltava para a hora combinada, por
isso fui-me arranjar. Bebi um whisky e fumei um cigarro para descontrair.
Cheguei ao café cinco minutos
antes da Raquel. Conversámos acerca dos motivos que poderão ter conduzido o seu
marido àquela morte brutal e ela disse-me que já há algum tempo que ele andava
deprimido devido ao descontrolo das contas e de outras dificuldades. Contou-me
também que já há muito tempo não havia intimidades entre eles. Chorou e eu
consolei-a, pois como bom homem que sou, senti que a devia apoiar. Pedi-lhe que
falasse com a sua filha e marcámos novo encontro para o dia seguinte à tarde.
Algo naquela mulher me cativava:
não sei se seria a sua simpatia ou a sua sinceridade, mas aquela mulher de um
metro e cinquenta e oito, de olhos verdes e grandes, cabelo longo e
encaracolado de cor castanha, chocolate, corpo esbelto e moreno, sorriso branco
e cristalino, nariz pequeno e um peito de formas perfeitas, encantava-me. Fui-me
embora pouco tempo depois. jantei e adormeci no sofá com ela no pensamento.
No dia seguinte, fui ter com a
Joana. Nada me disse, mas vi que agia de forma estranha. Parecia algo nervosa
quando lhe dei conta das minhas suspeitas. Embora não tenha dedicado muito
tempo a pensar nisso, fiquei com a sensação de que me escondia alguma coisa.
Fui almoçar a casa da Raquel e da
Margarida, tal como ficara combinado anteriormente. Esta última quis cozinhar
e, de facto, fê-lo bem, pois estava tudo delicioso. Enquanto comíamos, falámos
sobre várias coisas e eu sentia-me bem perto delas, como se há muito
convivêssemos. De repente, recebi uma mensagem da Joana a pedir para nos
encontrarmos dali a duas horas. Nada comentei com a Raquel nem com a Margarida,
apenas me despedi e saí.
Cheguei ao sítio indicado, um beco
escuro e sombrio. Vazio. Lá estava ela ao fundo, aproximando-se cada vez mais.
Já próximos um do outro, perguntei-lhe o que se passava e foi aí, nesse mesmo
instante, que me contou tudo. A vítima não se tinha suicidado, foi ela que a
matou. Deu-me conta de todos os pormenores. Perguntei-lhe então o motivo que a
conduziu a essa decisão. Segundo me confessou, só o fez por causa das joias,
joias que tanto desejava. Nada mais me restava do que cumprir o meu dever, ou
seja, prendê-la. Aproximei-me para o fazer e, nesse instante, senti algo a
entrar dentro de mim. Uma dor eletrizou o meu corpo, percorrendo-o. Olhei para
mim próprio e verifiquei que ela me espetara uma faca no estômago. Olhando para
mim, ela sorria. Lágrimas desciam pelo meu rosto e, de repente, tudo ficou
nebuloso. Lembro-me apenas de ouvir uma voz que dizia:
- Então, já trataste do assunto?
- Sim, Raquel. Não te preocupes -
disse a Joana.
- Raquel?!... Oh meu Deus! Fui
enganado!
- Desculpa, não podias continuar
a viver, pois sabias demasiado – disse Raquel, olhando para mim friamente.
Tudo escureceu em meu redor, até desaparecer
totalmente a luz.